Tirando o desejo de ganhar dinheiro fácil com uma indenização, Jackie Tyler é uma senhora que tem muito apreço por sua filha, ainda mais depois da perda do marido, Peter. Rose sempre soube que seu pai morrera vítima de um atropelamento quando ela era ainda um bebezinho de colo. Logo, ela não teve a oportunidade de conhecê-lo. Mas nada como uma máquina do tempo quando se precisa dela, não? Ela convence ao Doutor de voltar no tempo, para aquele dia nublado, 7 de novembro de 1987 (besteira, todos os dias em Londres são nublados), para que ela veja como o pai dela morreu. Ninguém viu, ele foi atropelado e o motorista fugiu, só encontraram-no agonizando na rua.
O Doutor, a contragosto aceita, mas avisa a Rose das consequências para o continuum espaço-tempo caso ela interfira no incidente (que é a morte do seu pai). Ela aceita, e quando o pai dela é atropelado, ela deseja estar com ele no momento de sua morte... Mas é paralisada pelo medo e não vai. Ela pede uma nova chance, e o Doutor a dá.
Agora, ela deve ficar mais longe, já que havia um Doutor e uma Rose presentes do incidente anterior. O Doutor pede que Rose não seja visível pela Rose e pelo Doutor anteriores, para não criar um paradoxo. Rose promete mas não cumpre: Corre, passa por entre o Doutor e a Rose anteriores (que somem), e ela impede o atropelamento do pai, que
não morre. E aí começa a confusão.
Rose confessa que evitar a morte do seu pai era um plano dela desde que ela soube que o TARDIS permitia viajar no tempo, e agora tinha sido concretizado. No caminho para a igreja, eles vêem o carro que quase matou Peter sumir e reaparecer, além de estranhos incidentes começarem a ocorrer. Logo surgem criaturas aladas e negras (não, não são
nazgul) que começam a matar todas as pessoas que estão presentes, começando pelo clérigo da igreja e os padrinhos. O Doutor explica que aquelas criaturas estão fechando uma ferida no espaço-tempo, consumindo a tudo e a todos.
Mais algum bla-bla-bla, Rose vê a ela mesma (mas o Doutor impede-a de tocar o bebê), Peter descobre a verdade (aquela jovem é a filha dele vinda do futuro) e o Doutor não sabe o que fazer: se os Senhores do Tempo estivessem ainda vivos, o paradoxo temporal poderia ser resolvido. Mas apenas com o Doutor como o último deles, ele não sabia como resolver. O paradoxo das Roses não é evitado (Peter acaba causando-o), o Doutor é consumido, e Peter parte para o clichê, o inevitável sacrifício para que tudo seja restaurado, e que todo mundo sabia que só se resolveria dessa maneira.
No final das contas, Jackie reconta a história do pai à pequena Rose, acrescentando que uma moça ficou com ele enquanto ele morria. Peter, "o mais maravilhoso homem de todo mundo".
Paradoxos temporais podem render boas histórias ou grandes porcarias. Jornada nas Estrelas tem ótimos exemplos de histórias maravilhosas ("
The City on the Edge of Forever") e montes de lixo (
Jornada nas Estrelas:Voyager estão cheios desses).
Brannon Braga que o diga, um especialista em resolver tudo com viagens temporais, estragou muitos roteiros bons com viagens fora de propósito.
Doctor Who caminha sempre sobre essa linha tênue. É muito fácil estragar uma boa história com uma viagem no tempo mal-colocada e mal-explicada. Mas esse episódio, ao contrário de outros, é bom. Não se rende ao sentimentalismo
no final, explica alguns pontos da história da Rose e sua mãe, e amarra a história direitinho. Não é um episódio espetacular, mas é bem amarrado e linear, sem viajar muito na maionese. Outra coisa legal é conhecer Peter Tyler, um homem cheio de invenções e idéias que não dão certo, e que será visto novamente na série, em uma próxima temporada.
Enfim, um episódio muito bom, mas ainda não é o melhor da temporada, na minha opinião e na do prêmio Hugo para Apresentação Dramática. Apesar disso, esse episódio foi um dos indicados, junto com Dalek, 6o episódio da 1a temporada (e que eu falei há 2 semanas atrás).
a) Se você gostou das aventuras do Doutor e está atrás de informação a respeito dele em português, recomendo-lhe a visita a dois blogs:
b) A série Doctor Who, desde que foi reiniciada em 2005, sempre teve muito foco na Internet. A BBC "plantou" alguns sites, como o da
e outros, de forma que o fã continua interagindo com a série mesmo longe da TV. O que parece óbvio em 2009 (quando escrevo essa resenha), em 2005 não é tão óbvio assim. E uma das interações criadas está em mini-episódios interativos e jogos no site da
. Logo, se você estiver realmente interessado em Doctor Who e entediado da vida, visite esse link
. Existem dezenas de jogos interativos (alguns até classificados como mini-episódios) que devem render um bocado de diversão - principalmente se você manja do idioma anglo-saxônico.